quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Repercussão


Advogado conta em livro lançado hoje a tragédia de Jhonny Yguison

Impunidade: Walmir Brelaz escreveu a história de flanelinha ferido a bala por policial

O advogado Walmir Brelaz lança, hoje pela manhã, o livro 'O Flanelinha: Sinal vermelho para Jhonny Yguison', que narra a história do ex-flanelinha, que ficou paraplégico depois que foi ferido a bala pelo policial militar Darlan Carlos Silva Barros. Em 20 de novembro de 2001, aos 12 anos, Jhonny trabalhava limpando pára-brisas na esquina das avenidas Pedro Álvares Cabral com a Tavares Bastos, quando foi baleado pelo policial sem nenhum motivo. Passados seis anos do crime, que teve grande repercussão em Belém, a tentativa de morte continua impune.
A bala que atingiu Jhonny causou um enorme estrago no adolescente. Entrou por um de seus braços, atravessando seu corpo, atingindo um rim, o baço e o fígado, tornando-o definitivamente paraplégico. O crime foi amplamente noticiado pela imprensa local e nacional, merecendo a intervenção da Anistia Internacional.
Em 2002, o Poder Judiciário determinou ao Estado arcar com todo o tratamento médico necessário a Jhonny. Além disso, o governo concedeu uma pensão especial no valor atual de R$ 900 à família do garoto.
Além de paraplégico, hoje com 18 anos, o jovem continua dependendo do uso de sondas para urinar e defecar, de uma alimentação especial. Ele também sofre de problemas de pele, causados pelo uso dos medicamentos para controle de infecções.
Walmir Brelaz diz que a pensão está sendo regularmente paga, mas o rapaz não recebe tratamento médico do Estado. 'Atualmente eu sinto dor no lado direito do corpo; parece que está rasgando. Tenho uma sonda para urinar e outra para defecar e o que eu sei é que a Justiça obrigou o Estado a me dar toda assistência médica, mas isso não acontece. A maioria das consultas sou eu quem marco, eu preciso ficar ligando pra eles. Há dois meses a enfermeira não vem aqui em casa. O médico só veio uma vez aqui porque nós pressionamos. E ainda tem médico que nem sabe o que eu tenho', conta Jhonny num dos trechos de 'O Flanelinha:...'.
Brelaz diz que após seis anos do crime, Jhonny Yguison vive praticamente ignorado por um Estado que insiste em negar-lhe o tratamento médico, mesmo estando judicialmente obrigado a fazê-lo.
O gasto mensal com remédios é bem maior que o valor da pensão que o jovem recebe. Mas, pior mesmo, é a situação de impunidade que o garoto tem de enfrentar. No início deste ano, o juiz Ronaldo Vale desclassificou a pronúncia de Darlan Barros, mudando a denúncia de tentativa de homicídio para lesões corporais, argumentando que a intenção do militar não era matar.
DEPOIMENTOS
No livro, que será lançado hoje por Walmir Brelaz, a história de Jhonny é contada com depoimentos dele, de sua família e de informações tiradas dos autos do processo contra Darlan Barros. 'É a história de uma criança trabalhadora de rua, que conta sua infância, suas aventuras, a tragédia e o sofrimento, a luta por justiça, seus planos e sonhos interrompidos por um agente do Estado, treinado e pago para dar segurança à população, mas que investiu contra uma criança desprotegida, que era vítima da falta de políticas públicas adequadas para a infância e hoje continua vítima da falta de sensibilidade da justiça e do próprio Estado', discursa Brelaz.
O lançamento do livro será na casa de Jhonny Yguison, localizada no bairro do 40 Horas, em Ananinduea. A intenção do autor é mostrar como o jovem sobrevive hoje, seis anos depois do crime cometido pelo polícial militar, que continua em liberdade e ainda não foi julgado.

O Liberal, 20.11.2007
Jornal Amazônia, 20.11.2007

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Livro sobre a vida de Jhonny Yguison terá renda revertida para a família dele

Quando o caso Jhonny Yguison Miranda da Silva - covardemente baleado pelo policial militar Darlan Carlos Silva Barros enquanto trabalhava como flanelinha em uma movimentada esquina da avenida Pedro Álvares Cabral, na capital paraense - veio à tona, em 2001, o alarde foi grande. Imprensa nacional e internacional, órgãos de defesa dos Direitos Humanos, de proteção à criança e contrários à violência fizeram manifestos e pressionaram o governo estadual para que oferecesse ao menino toda a assistência necessária. Hoje, seis anos depois do crime, no entanto, a vida de Jhonny mudou pouco. Melhor dizendo, só mudou para pior.
A família continua na mesma situação de pobreza que levou o menino, seis anos atrás, a começar a trabalhar como flanelinha nos semáforos de Belém. A pensão recebida do governo (de R$ 900) mal dá para custear os medicamentos de que o garoto precisa e, por conta da precária assistência médica do Estado, ele é obrigado a conviver diariamente com dores e desconfortos advindos dos problemas decorrentes do fatídico disparo. E para completar, em maio deste ano a Justiça paraense decidiu desclassificar o delito cometido por Darlan Barros de tentativa de homicídio para lesão corporal de natureza grave, o que faz com o que crime deixe de ser julgado em um Tribunal do Júri passando para o juízo singular.
Foi pensando em todas essas questões que o advogado Walmir Moura Brelaz, militante há muitos anos dos direitos humanos no Estado, decidiu escrever um livro que contasse a história de Jhonny Yguison. A obra, intitulada 'O Flanelinha - Sinal vermelho para Jhonny Yguison', foi lançada ontem de manhã em Belém, na casa do ex-flanelinha, na Estrada do 40 horas, em Ananindeua. Segundo Brelaz, não havia como fazer um lançamento festivo, já que o ideal era que 'um livro como aquele nem existisse'.
Segundo o autor, a obra, que pode ser encontrada nas principais livrarias da cidade, custa apenas R$ 20 e toda a renda será revertida para a família de Jhonny. Ele vive com o pai, a mãe e uma irmã. O pai está desempregado e a mãe precisou abandonar a barraca que tinha na feira do Ver-o-Peso para cuidar do garoto depois da tragédia. Hoje, a família sobrevive apenas com o dinheiro da pensão paga pelo Estado e os lucros advindos de uma vendinha que eles montaram na frente de casa. Yguison deseja uma audiência com a governadora Ana Júlia Carepa para pedir ajuda. 'Já enviamos um ofício, mas não obtivemos resposta. Gostaria muito de conversar com ela, para explicar tudo o que está acontecendo comigo e pedir ajuda', desabafou.

Jornal Amazônia, 21.11.207

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